O montado, concentrado sobretudo no Alentejo e Ribatejo, está a envelhecer, verificando-se que anualmente seis por cento das árvores ficam caducas. Renovar é a palavra que impera no setor florestal.
Autor :Maria Antónia Zacarias
Fonte: Redacção D.S.
21 Outubro 2016
Um exemplo disso é do produtor Francisco Almeida Garrett, que lidera a empresa familiar Rovisco Garcia, na Herdade do Conqueiro, concelho de Avis, que produz vinho e azeite alentejanos, e que se lembrou de fazer a experiência de plantar e regar sobreiros. O projeto piloto está a ser feito em apenas dois hectares, mas que são únicos no mundo. A ideia é conseguir acelerar o processo de produção e extração desta matéria-prima ao ponto do sobreiro dar cortiça aos oito anos de idade. Em declarações exclusivas ao “Diário do Sul”, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, afirmou que esta experiência pode vir a revelar-se de extrema importância para resolver o problema de escassez de matéria-prima com que a indústria e as exportações portuguesas se confrontam.
O produtor Francisco Almeida Garret decidiu, em 2002, quando estava a preparar-se para plantar oliveiras, em regime superintensivo, em 70 hectares, aproveitar uma pequena porção de terra de menor qualidade para plantar sobreiros com a diferença de que estes seriam regados gota a gota. Segundo o semanário “Expresso”, este processo foi sendo monitorizado, tendo-se verificado o crescimento das árvores e a produção de cortiça ao fim de oito anos.
Passado este tempo, as cascas dos sobreiros já tinham a dimensão certa para serem retiradas. De salientar que, no montado tradicional, só ao fim de 25 anos seria possível fazer a primeira extração, e por volta do 43º ano de vida é que o sobreiro começa a rentabilizar verdadeiramente o seu valor. Os agricultores garantem que apenas à terceira extração é que a cortiça tem qualidade suficiente para que seja possível fazer produtos de valor acrescentado, como as rolhas. Daí afirmar-se que quem planta um montado, nunca é para si, mas para os filhos ou mesmo para os netos.
Certo é que esta ideia pioneira mostrou que, em 2015, quatro anos depois da primeira extração, “ já havia árvores com cortiça prontas a serem novamente descortiçadas, o que pode tornar esta cultura muito mais aliciante para os produtores”, pode ler-se no mesmo jornal.
Perante os resultados desta experiência, o produtor contactou a Corticeira Amorim e em parceria com a Universidade de Évora iniciaram um estudo em pormenor sobre as necessidades de água dos sobreiros.
Aliás, o jornal “Expresso” adianta que há já celebrado um protocolo com dez produtores de cortiça para, a partir de novembro, e até ao final do ano, serem plantados 500 hectares de montado de regadio, num investimento suportado pela Corticeira Amorim.
O objetivo é chegar aos 50 mil hectares necessários para contribuir para a revitalização do montado, mas com sobreiros todos eles regados.
Qualidade da matéria-prima
tem que ser estudada
Em declarações exclusivas ao “Diário do Sul”, o ministro Capoulas Santos classificou este projeto como “uma experiência com resultados muito positivos em termos de crescimento das árvores e da cortiça”.
No entanto, o governante salientou que carece ainda de estudos sobre a qualidade da cortiça e de impacto económico relativamente aos custos de instalação e de exploração de sistemas de rega, bem como de disponibilidade de reservas de água, “uma vez que os aproveitamentos hidroagrícolas excluem, obviamente, o uso florestal”.
De qualquer modo, Capoulas Santos afirmou que “a confirmarem-se as boas expectativas que já são observáveis, pode vir a revelar-se de extrema importância para resolver o problema de escassez de matéria-prima com que a indústria e as exportações portuguesas se confrontam”.
Recorde-se que 70 por cento da transformação mundial de cortiça é feita em Portugal, que a nível nacional existem quase 700 empresas e, todos os anos, na época da extração, este setor dá emprego a cerca de nove mil trabalhadores.